Em 28 de Abril de 2017, através de um convite do Clube de Engenharia, estive presente em um evento na faculdade de direito da USP, no Largo São Francisco, em São Paulo, afim de prestigiar o lançamento do Manifesto do Projeto Brasil Nação, capitaneado pelo famigerado economista, cientista político, cientista social, administrador de empresas, formado em direito e professor da Fundação Getúlio Vargas, Luiz Carlos Bresser-Pereira, e assinado por diversos políticos, professores, intelectuais e empresários como Fernando Haddad, Ciro Gomes, Celso Amorim, Eduardo Suplicy, Lindbergh Farias, Carina Vitral, Luiz Gonzaga de Belluzzo, Raduan Nassar, Pedro Celestino, Leda Paulani, Fábio Konder Comparato, Paulo Henrique Amorim e Mario Bernadini.
Em suma, o manifesto apresentado, propõe um projeto de desenvolvimento nacional, de médio e longo prazo, como alternativa ao neoliberalismo, que apesar de ter fracassado mundo a fora, ressuscitou no Brasil e se impôs, através de um golpe de Estado, que deu origem a um processo dramático de desindustrialização e desnacionalização dos ativos públicos, cujas principais consequências, foram o aprofundamento da recessão, a implementação de políticas de austeridade, reformas impopulares e mais de 14 milhões de desempregados.
Esta ocasião me fez compreender melhor um relato que presenciei um ano antes, no dia 28 de abril de 2016, em um evento semelhante, na PUC-SP, onde o Ciro Gomes, então pré candidato à presidência da república pelo PDT, afirmou em tom de sátira, que há pouco tempo atrás o Brasil ainda importava enxadas, inclusive com cabos, para dar ênfase a industrialização tardia do Brasil, citando como evidência a incapacidade de se produzir internamente uma ferramenta simples e essencial, para um pais cujo principal pilar da economia era a agricultura.
Eu confesso que em 2016 achei que o relato fosse uma sátira por inflação, mas me enganei, pois o que Ciro Gomes disse no auditório da PUC-SP lotado de estudantes de economia, não foi apenas por força da expressão, ele referia-se ao governo de Epitácio Pessoa (1919:1922), que antecedeu o primeiro governo de Getúlio Vargas (1930:1945), ou seja, antecedeu o início do processo de industrialização do Brasil.
Estes dois episódios PUC e USP, me surpreenderam pois a partir dalí obtive consciência de que o Brasil passou a planejar o processo de industrialização somente após a década de 1930, e tive que concordar que ela foi realmente tardia, visto que a Revolução Industrial já tinha aproximadamente duzentos anos na Europa.
Fiquei mais surpreso ainda, ao conversar sobre o assunto com o meu Pai, o metalúrgico aposentado, Luiz Mendonça, que na adolescência foi trabalhador rural na região norte do Estado do Paraná, e afirmou que ainda no final da década de 1960, utilizou na agricultura, enxadas e outras ferramentas importadas da Inglaterra da famosa marca Duas Caras.
Segundo ele, as enxadas nacionais existentes naquela época, ainda eram de péssima qualidade, quebravam, não cortavam adequadamente, além de ter o cabo pesado e nada anatômico, o que garantiu o domínio do mercado interno, pelo produto importado, fabricado pela empresa Edward Elwell LTD, na Inglaterra, que foi o epicentro da primeira Revolução Industrial.
Em suma, a constatação de que ainda na década de sessenta, o Brasil importava enxadas, por sí só revela que apesar de ter iniciado o processo de industrialização na década de trinta, somente após a segunda guerra que ele passou a efetivamente reduzir a dependência tecnológica externa, e a garantir a autonomia necessária para desenvolver internamente o modo de produção capitalista, que nos colocou em posição privilegiada no aspecto econômico e geopolítico durante o período de globalização, quando o Brasil tornou-se um case de sucesso reconhecido internacionalmente, por ter protagonizado o mais intenso processo de industrialização da história no menor espaço de tempo.
o Brasil é hoje a sexta maior economia considerando o PIB e ao mesmo tempo o décimo país mais desigual do mundo, conforme divulgado em 2017, pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), além de rechaçar qualquer tipo de comparação indevida feita por quem não sabe de onde veio (Capitalismo de mercado / Capitalismo monopolista), onde está (Capitalismo tardio), tampouco para onde vai (Pós-capitalismo), e se arrisca a comparar o desenvolvimento industrial e econômico do Brasil com o de países como Estados Unidos, Inglaterra, Suiça e Noruega.
Enfim, essa constatação se faz importante a partir do ponto de vista geopolítico e histórico, pois confirma a tese do capitalismo tardio, difundida no início da década de 1980, pela base do "pensamento de Campinas", ou seja, pelos intelectuais, professores e estudantes da Escola de Economia da UNICAMP e esclarece os motivos pelos quais